domingo, 10 de agosto de 2008

O ano de todas as mudanças

A 10 de Agosto de 1912, nascia o escritor brasileiro Jorge Amado, autor de Gabriela,Cravo e Canela,a primeira novela a ser exibida em Portugal.

Estávamos a 16 de Maio de 1977.O país parava para ver a novela numa época em que ainda havia muitos lares sem televisores e era preciso ir ao café ver os episódios.

Não foi o meu caso, que a via em casa com os meus pais.Era uma forma do meu pai mostrar à minha mãe o país onde viveu durante toda a década de sessenta.País ao qual prometeu levá-la,mas não pôde,porque falecia quatro meses mais tarde.
Ficou a Gabriela e as descrições que lhe fazia.

O ano de 1977 foi um ano muito marcante na minha vida,também por outras razões:fiz sete anos,entrei na Escola Primária e fui a primeira da classe a aprender a ler.

Mudava a minha vida e mudava o país.

Passou-se muita coisa que me lembro muito bem: o sofrimento do meu pai, as visitas ao IPO (Instituto Português de Oncologia),as boas costureiras como a minha mãe a ficarem sem trabalho devido ao surgimento do pronto-a-vestir,a experimentação da dor da perda do meu pai que foi sempre tão dedicado à família,o luto (nessa época, as viúvas ainda punham lenço na cabeça e roupa preta por quatro anos; eu vestia azul escuro e castanho, o que já foi um avanço para época),a entrada na escola, o respeito à professora, o fim das grandes Festas de Anos e das Férias no Algarve,a crise petrolífera e o impacto na economia, o Somos Livres da Ermelinda Duarte e o The Wall dos Pink Floyd,a descoberta do amor ao estudo,os nomes das meninas que mudavam nesse ano(surgiam as Tânias em grande força,por exemplo,eu tive duas na Família, com as Sónias e as Sandras de 1970 a passarem de moda).A morte do Elvis a 16de Agosto desse ano.Um ano, em que ainda se respeitavam os professores e na minha classe, os trinta alunos liam todos,diariamente,em voz alta,a Matilde Rosa Araújo e a Alice Vieira,e se faziam ditados e composições todos os dias.
Entretanto à nossa volta,víamos os adultos a mudar:nas modas, nos penteados, na forma de falar e de amar.Passávamos do "parece mal" para a experimentação da novidade.
Melávamos a voz e andávamos apaixonadas pelo Dr Mundinho.Eu confesso que sempre adorei o lado malandro do José Wilker.E até hoje, foi a personagem que mais gostei de vê-lo a representar em telenovela.
Mudavam-se os usos e costumes.Portugal nunca mais foi o mesmo.

Com a voz da Gal Costa a marcar essa viragem histórica.



Fica a homenagem ao Jorge Amado.

Aqui, o grande Paulo Gracindo com José Wilker:

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